8º
ANO - Adolescência
ALCIONE ARAUJO
e-mail: alcionaraujo@uol.com.br
Já era outono e nós
tínhamos o espírito suave da primavera. Aos 15, 16 anos, podíamos ser o que a
nossa imaginação alcançasse. A realidade era intangível e desnecessária. Era
uma imposição contra a qual nos rebelávamos. Era uma interdição ao nosso sonho.
Mais do que interdição, era o fim do nosso sonho. Na realidade, não há grandes
paixões, não somos gênios, não somos heróis, nem mártires, nem santos. Na
realidade, somos reduzidos a adolescentes espinhentos, a quem ninguém dá
ouvidos. A realidade é o princípio da morte.
Nós, adolescentes, morríamos a todo
momento, sufocados pela realidade. E éramos sepultados no chão duro da
realidade. Mas tínhamos mais vidas que o gato. Sete vezes sete vidas. E logo
ressuscitávamos, fugíamos das grades da realidade, rasgávamos a camisa-de-força
da realidade, e mergulhávamos outra vez no sonho. E com as nossas sete vezes
sete vidas, nos tornávamos James Dean, Pelé, Napoleão, Bethoven, Jesus Cristo,
Dostoievski, e tantos outros, que surgiam e se apagavam tão depressa, que não
deixavam nenhuma luz no mundo.
E fui tantos e quantos, que perdi a
conta. Qualquer romance eu era dois três. Qualquer filme, mais dois ou três. Em
qualquer festa, eu era um ou dois. Fui tantos ! E fui me construindo com esses
cacos que a minha adolescência juntava, com esses retalhos de alma, dessa
poeira que se acumula com o tempo. E fui me fazendo com o que sobrava dos
outros (…). Não é que eu viva no passado, é que o passado está em mim.
Mesmo sendo fruto desta colagem,
ela foi se misturando de uma maneira singular. Havia mais resignação no lado
direito, mais revolta no esquerdo, mais firmeza no caráter, mais incertezas
quanto ao certo. Mais convicção quanto à arte,
menos quanto ao amor. Que alegria, se eu conseguisse ser eu!
Certamente, seria outro, outra
síntese de outros. E mesmo entre nós, adolescentes, uns eram ídolos de outros.
Por pouco tempo, é verdade. Mas em rodízio. Algum, capaz de um ato de coragem,
atraía os olhares de admiração dos mais medrosos. O que arranjava namorada, era
invejado, copiava-se até o penteado do seu cabelo. Andava-se com pente no bolso
de trás e, no bolsinho de moedas, espelhinho oval, com foto de mulher nua, ou
escudo do time preferido. Servia para pentear cabelo, espremer cravo e pôr
sobre o sapato enquanto as meninas passavam de saia – embora nunca tenha visto
esse uso. Eu não me encontrava em lugar algum. Parecia o fantasma de um cão
adestrado. Ia para um lado e outro, sempre seguindo a decisão de alguém, na
solidão dos que vão atrás.
As garotas não sabem o que é
adolescência. Elas saltam de uma etapa para outra, sem ninguém perceber. De
repente, pronto: eis a mulher! Nariz empinado, muda a maneira de vestir e de
conversar. E isso inclui ignorar até os irmãos. Quando se é um adolescente,
nenhuma garota tem a sua idade. Ou melhor, ninguém tem a sua idade. Você é a
única criatura no mundo que (…) ninguém confia, ninguém dá dinheiro e, à
primeira coisa errada que aconteça, você é suspeito de ser o autor.
Que fase maravilhosa, a
adolescência! Você próprio está se construindo. Um ser em obras, com andaimes,
latas de tinta e pincéis. Tudo é um vir-a-ser. Vida, profissão, amor, família,
tudo é futuro. Por isso, pode voar em sonhos e mergulhar em delírios. Em sonhos
e delírios, você é o que quiser. Se ninguém entende e reclama de você fica na
sua. Mas bem na sua mesmo. Esconda-se naquele lugar onde ninguém vai lhe achar,
nem mesmo você sabe onde é direito. Vai para lá no automático. E fica lá em silêncio
consigo mesmo. Afinal, nem você mesmo se entende. Mas os que se queixam de
você, não se entendem entre si também.
Sempre
se diz que a adolescência é a fase mais difícil, porque deixou-se de ser uma
coisa e ainda não se é outra. Não se deu assim comigo. Se me fosse dado voltar
no tempo, eu voltaria para a adolescência. Foi o período mais alegre da minha
vida. Eu tinha tão pouco e precisava de tão menos, que do nada havia sobra. Era
a aventura e a alegria, a curiosidade e as descobertas, a gratuidade de uma
vida que ainda não era. Vivi mais perto de mim, com mais paz, e mais perto de
ser feliz. Para quem não tem nada, menos que pouco pode ser o bastante. Ou até
demais.
01. Leia
atentamente o seguinte fragmento da crônica de Alcione Araújo, “Adolescência”:
“E fui me fazendo
com o que sobrava dos outros (...). Não é que eu viva no passado, é o
passado que está em mim.” (g.n.)
Em uma das opções abaixo, estabeleceu-se uma CORRETA
RELAÇÃO entre o fragmento lido e o romance Olhai
os lírios do campo. APONTE-A:
A)
Eugênio é uma personagem que, com o tempo, se
transforma e evolui, a partir de tudo o que aprendeu no passado com Olívia,
que, então, passa a “viver dentro dele”.
B)
Eugênio trava uma luta interminável na qual se
chocam suas ambições do presente com o desejo de acomodação que ele herda do
passado.
C)
Eugênio adapta-se confortavelmente a sua nova
vida de homem rico e influente ao lado de Eunice, esquecendo que veio da
pobreza, de uma condição inferior.
D)
Eugênio, mesmo rico, abandona tudo e volta à
condição de pobreza de sua infância, já que havia sido completamente feliz
naquela época.
Resposta: Letra
A
02.
“Sempre se diz que a adolescência é a fase
mais difícil (...). Não se deu assim comigo. Se me fosse dado voltar no tempo,
eu voltaria para a adolescência. Foi o período mais alegre da minha vida. Eu
tinha tão pouco e precisava de tão menos, que do nada havia sobra.”
RELACIONANDO-SE o trecho acima ao romance Olhai os lírios do campo, SÓ PODEMOS
AFIRMAR o seguinte:
A)
O trecho apresenta uma visão da adolescência
semelhante à que Eugênio viveu, quando também tinha muito pouco no sentido
material, mas não sentia necessidade de mais nada, pois era amado e feliz.
B)
Apenas em parte o trecho acima faz lembrar a
vida do Eugênio jovem, porque sua família sempre lhe deu uma vida confortável,
mas que ele nunca valorizou, realmente.
C)
O trecho apresenta uma visão da adolescência
contrária à que Eugênio viveu, pois sua adolescência foi marcada por
dificuldades, angústias, conflitos e necessidades, bem como pelo desejo de ascensão
social.
D)
O trecho, na verdade, não guarda nenhuma relação
com a história de Eugênio, pois o autor mantém a narrativa no plano da vida
adulta do protagonista.
Resposta: Letra
C
03. São
temas significativos, desenvolvidos pelo autor na obra Olhai os lírios do campo, EXCETO:
A)
O existencialismo: a busca de um sentido para a
vida.
B)
Espiritualismo (fé) X
Materialismo (descrença)
C)
A morte e a luta contra ela, na tentativa de
vencê-la.
D)
A impossibilidade de acesso à educação para as
pessoas pobres.
Resposta: Letra
D
04. Todas
as afirmativas sobre Olhai os lírios
do campo são verdadeiras, EXCETO:
A)
Na primeira parte da obra, o autor alterna o tempo cronológico com o tempo psicológico, fazendo com que presente e passado sejam experimentados simultaneamente.
B)
O título Olhai
os lírios do campo, expressão retirada do “Sermão da Montanha”, de
Jesus, comprova o caráter religioso da obra de Érico Veríssimo, que defende a
necessidade da religião na vida das pessoas.
C)
Embora não seja uma personagem viva, o “Megatério” de Filipe Lobo também pode
ser considerado como personagem, já que se torna uma presença marcante na vida
de Eugênio, fascinando-o ou amedrontando-o em diversos momentos.
D)
Érico Veríssimo escreve uma obra humanista, isto é, nela são propostas
questões de real interesse para o ser humano e a sociedade, permanecendo,
portanto, atual.
Resposta: Letra
B
05. Todas
as personagens listadas opõem-se de alguma forma no romance de Érico
Veríssimo. A oposição entre elas NÃO foi indicada de forma correta, respectivamente, na seguinte
opção:
A)
EUGÊNIO
X EUNICE =>
Complexo de inferioridade X Aparente superioridade
B)
EUNICE
X OLÍVIA => Anseio de maternidade X
Anseio de liberdade
C)
EUGÊNIO
X FILIPE LOBO =>
Solidariedade X Egoísmo
D)
SEIXAS
X EUGÊNIO =>
Negativismo X Idealismo
Resposta: Letra
B
Ø INSTRUÇÃO:
As questões a seguir referem-se à obra Morte
e Vida Severina
06. Sobre
o título do livro de João Cabral de Melo Neto, é possível afirmar tudo o que se
segue, à EXCEÇÃO DE:
A)
A palavra “severina” deriva de um nome próprio
muito comum no Nordeste ( Severino), justificando certa predestinação numa vida
de privações.
B)
O adjetivo “severina” relaciona-se tanto à vida
quanto à morte.
C)
O título sugere a harmonia que conduz a vida do
povo nordestino.
D)
A inversão MORTE > VIDA
confirma o final do livro, no qual o nascimento de uma criança supera a
morte, que acompanha a narrativa.
Resposta: Letra
C
07. Tomando-se
o subtítulo do livro “Auto de Natal Pernambucano”, podemos afirmar que, EXCETO:
A)
É uma peça teatral para ser encenada apenas
durante os festejos natalinos.
B)
Podemos falar de paráfrase em relação à história
bíblica, ao término da obra.
C)
O adjetivo “pernambucano” aponta para a
localização geográfica do enredo, isto é, o Nordeste brasileiro.
D)
A cena final da peça recompõe o nascimento de
Jesus Cristo, atualizando-o.
Resposta: Letra
A
08. Todos
os personagens abaixo apresentam estreita relação com a morte, EXCETO:
A)
Mulher da Janela
B)
Coveiros
C)
Irmão das Almas
D)
Mestre Carpina
Resposta: Letra
D
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