sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

GÊNERO TEXTUAL: RELATO PESSOAL 02

Relato Pessoal
(você pode introduzir o gênero com esse pequeno texto e ir sondando o conhecimento prévio sobre o mesmo dos alunos para orientar quais serão suas próximas estratégias)
Habilidade trabalhadas: 1.1, 1.7, 1.8, 3.3, 3.4, 3.5, 4.1, 6.4, 9.8, 25.4
Texto: Velho Canivete
Já ganhei vários presentes. [...]
Mas acho que, se alguém me forçasse a escolher o melhor presente que já recebi, eu ficaria mesmo com o canivete suíço que meu pai me deu 11 anos atrás. Não é um canivete qualquer: é daqueles gordos, com dezenas de ganchinhos, serrinhas, lâminas. Com caneta, pinça, lupa, tesoura, alicate. Ele ainda veio num estojo de couro, com lápis, pedra de amolar, band-aid, kit de costura, lixa. E um espelhinho acompanhado de um papel com o código morse – sim, para eu me comunicar refletindo a luz do sol em caso de naufrágio, ou terremoto, ou tsunami, sei lá.
O canivete já me salvou de várias [...]. Ele já passou por boas, e isso fica claro quando se mexe nele. As articulações já não são tão suaves, as molas endureceram, muitas peças estão tortas e não encaixam direito. A caneta sumiu, os band-aids suíços acabaram, as agulhas de costura estão com as pontas pretas de tanto serem colocados na chama para esterilizar antes de serem usadas para extrair espinhos. Apesar de ser de aço inox, há marcas de ferrugem por toda parte. Enfim, tudo nele dizia “está na hora de comprar um canivete novo”.
Pois é, hoje em dia existem canivetes espetaculares, até com recursos eletrônicos (lanternas, pen drives e sei lá mais o quê). Aí comecei a lembrar a origem daquelas marquinhas – e cada uma delas me transportou para um lugar diferente. Cada uma era prova de que aquele canivete viveu. De que ele abriu latas, serrou cabos de aço, lixou unhas quebradas, aparou minha barba, arrombou portas, consertou bicicletas, tapou buracos de botas, ajustou óculos. De que ele esteve em todos os cantos do mundo e tomou banho de mar, de óleo de peixe em conserva, de molho de tomate, de vinho vagabundo. E me lembrei de quando ganhei o canivete de presente: eu estava de saída para a minha primeira longa temporada fora de casa – nove meses na estrada de mochila nas costas – e, como meu pai não podia ir comigo, aquele foi o melhor jeito que ele teve de me dizer “quer uma força?”
Fui buscar uma escova de dentes velha e uma lata de querosene e comecei a limpar as entranhas dele. Foram umas duas horas de trabalho, esfregando, desentortando, enxugando. Não dá para dizer que o canivete ficou novo – as marcas continuam lá, e vão continuar sempre. Mas acho que ele está pronto para a próxima.
(Denis Russo Burgierman. Vida Simples, nº56. Editora Abril.)
Explorando o gênero
1. Nesse texto, o autor relata fatos que viveu, depois de ter ganhado um canivete de presente do pai.
a) Qual foi o motivo do presente?
b) Na sua opinião, as marcas no canivete são também marcas que estão no autor? Por quê?
c) Que sentido tem o trecho “[as marcas] vão continuar sempre”?
2. Nos relatos é comum o emprego da descrição, usada para caracterizar as pessoas, os lugares, os objetos, etc. Pela descrição feita no relato, como estava o canivete antes de o narrador limpá-lo?
3. Os fatos relatados pelo narrador são inventados por ele ou são recordações de experiência vivida? Que trecho do 4º parágrafo comprova sua resposta?
4. Releia os seguintes trechos do relato e observe as palavras destacadas: “Já ganhei vários presentes” “eu ficaria mesmo com o canivete suíço que meu pai me deu 11 anos atrás” “cada uma delas me transportou para um lugar diferente”
Isabella Siqueira – Equipe PIP/CBC Língua Portuguesa SRE Curvelo
a) Os pronomes destacados (negrito) referem-se a que pessoa do discurso?
b) Em que tempo estão as formas verbais destacadas (itálico)?
c) O autor participa da história como observador ou como protagonista?
5. No relato, normalmente se emprega a variedade padrão da língua, que pode ser formal ou informal, dependendo de quem é o narrador-protagonista e/ou seu ouvinte ou leitor.
a) No relato em estudo, que variedade lingüística foi empregada?
b) O autor faz uso de certa informalidade em seu relato?
6. Levante hipóteses: a que tipo de público esse relato pessoal se destina?
7. Qual é o suporte desse gênero textual, isto é, como ele é veiculado para atingir o público a que se destina?
8. Por que a frase: “quer uma força?” (linha 22) está entre aspas?
(Após essa atividade, monte com os alunos as características de um relato pessoal a partir das próprias respostas deles)
Finalidade do gênero: relatar um fato
Público alvo: jovens e adultos
Suporte ou veículo: internet (o texto foi retido da internet, mas ele foi publicado na revista Vida Simples. É interessante mostrar essa diferença para os alunos).
Tema: Presentes
Assunto: Um canivete com várias utilidades e com valor sentimental.
Linguagem: Formal, mas pode ser analisado com eles a hipótese se constar alguma informalidade na maneira de se expressar do autor por ser uma reprodução de algo que já aconteceu.
Domínio discursivo: Cotidiano
Estrutura: Prosa
Produção Inicial
Habilidade: 9.12
1. Lembre-se de um período simples marcante ocorrido com você, na infância ou mais recentemente – uma travessura de arrepiar, um presente inesperado, a adaptação numa escola nova, o nascimento de um irmão ou uma irmã, uma viagem ou um passeio inesquecível, uma grande decepção, o primeiro amor, um fato acontecido na escola, etc. – e escreva um relato sobre ele. Siga estas instruções:
a) Antes de começar a escrever seu relato pessoal, pense no leitor.
b) Relate o episódio escolhido procurando situá-lo no tempo e no espaço, citar as pessoas envolvidas, descrever o que você sentiu no momento, etc. Escreva seu relato na 1ª pessoa e empregue os verbos no passado. Use uma variedade lingüística adequada à situação relatada e aos leitores.
c) Faça um rascunho e, quando terminar de escrever seu texto, realize uma revisão cuidadosa, seguindo as seguintes orientações: *Observe se você empregou a 1ª pessoa e se os verbos estão predominantemente no passado. Verifique se o episódio relatado diz respeito a uma situação marcante na sua vida e se a linguagem está adequada à situação que relatou e ao perfil dos leitores.
(Adaptação dos Livros Texto e Interação e Português Linguagens 1, William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, 2010)
Essa sugestão pode e deve ser incrementada por você professor, ela é apenas um norteador. Espero que ajude em seu trabalho!

Um comentário:

  1. super legal o texto, e as perguntas tbm são muito boas. Só fiquei decepcionado pq não tem respostas, estou fazendo um trabalho a cerca do assunto e está publicação foi muito útil para o meu entendimento ... nota dez pra Bia de Guimarães, autora da publicação.

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